Crítica | O Legado de Júpiter – 1ª Temporada

Marcos Vinicius
Por: Marcos Vinicius
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Séries de super-heróis feitas para plataformas de streaming não são exatamente uma novidade. Temos o Amazon Prime Video com The Boys, o Disney+ com WandaVision, Falcão e o Soldado Invernal e outras séries que integram o MCU e, neste cenário, a Netflix parecia ficar para trás sem novos títulos do gênero há um bom tempo. Mas isso acabou de mudar.

Lançada originalmente em 2013, a HQ O Legado de Júpiter, de Mark Millar e Frank Quitely, retomava uma pertinente discussão geracional iniciada em 1996 por Mark Waid e Alex Ross em Reino do Amanhã. Assim como sua predecessora, a revista do Millarworld questionava a mudança das histórias de super-heróis, antes baseadas em inspiração e esperança e agora ditadas por tendências apelativas de quadros hiperviolentos e sexualizados. Adotando justamente a linguagem que criticava para provar sua tese, Millar entregou com o título um contraponto ao movimento que ajudou a criar com Kick-Ass e Os Supremos, provando que os grandes heróis são indissociáveis do simbolismo iluminado que os cercam. Infelizmente, a versão da Netflix de O Legado de Júpiter apenas ensaia recuperar esse debate, com resultados decepcionantes.

Josh Duhamel como Utópico(Créditos: Netflix)

Na história conhecemos a primeira geração de heróis do mundo, também conhecida como a União. Um século depois da sua árdua vida salvando o mundo, eles se deparam com um desafio para o qual não estavam preparados: A nova geração de heróis, seus filhos. Ainda que muitos queiram seguir os passos da velha guarda, eles possuem ideias bem diferentes do que um herói precisa fazer para salvar o dia e é isso que dita o caminho para as principais tramas da série. 

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É possível resumir a raiz de todos esses conflitos no Código heroico, o conjunto de regras que os supers precisam seguir. Criado por Utópico e os heróis da União, o principal mandamento dentre as regras é a proibição de tirar uma vida, independente das circunstâncias. O debate em torno deste tema tenta ser sério e complexo, e o que não falta é oportunidade para vermos uma história interessante saindo deste empasse. O grande problema é que a série só apresenta bons argumentos para um dos lados.

Integrantes da União em cena dos anos 1930: R. Conrad, Walter Sampson, Sheldon Sampson, Grace Sampson, Fitz Small e George Hutchence (Créditos: Netflix)

Mas este é apenas um dos problemas na execução desta série. Ainda que o ponto forte de O Legado de Júpiter esteja nos dias atuais, justamente por explorar a crescente divisão entre a primeira e a segunda geração de heróis, isso é constantemente interrompido por flashbacks longos e entediantes. 

Ao final dos oito episódios disponíveis na Netflix, ficamos com uma sensação de que a segunda temporada já está programada, pois não temos todas as respostas. O fim do último episódio não é exatamente de explodir mentes, como estamos acostumados, mas deixa mistérios no ar e, caso a série continue seguindo a HQ como tem feito parcialmente até então, ainda tem muita coisa para acontecer.

Brandon, vivido por Andrew Horton, tenta seguir os passos do pai, o Utópico (Créditos: Netflix)

Embora não tenha um texto bom com o qual trabalhar, o elenco se esforça o bastante para entregar o entretenimento prometido pelos trailers. Enquanto é inegável que Duhamel, Leslie Bibb e Ben Daniels transmitem a grandiosidade característica dos heróis da Era de Ouro dos quadrinhos, Elena Kampouris, Ian Quinlan, Anna Akana e Tenika Davis também entregam performances convincentes, apesar do roteiro embolado. Dentro do elenco, talvez Andrew Horton seja o único realmente prejudicado pelo script, já que ele tem pouco mais a fazer do que olhar para o horizonte com um semblante triste.

O uso moderado do gore também é elogiável. Diferentemente da chuva de sangue presente em The Boys ou Kick-Ass, a violência de O Legado de Júpiter faz parte da narrativa e serve de agente catalisador para ações dos personagens e não como um simples escape para qualquer sentimento sanguinolento que o espectador tenha guardado.

Com problemas de ritmo na hora de dosar as histórias, O Legado de Júpiter mais parece uma pré-primeira temporada, sendo apenas uma introdução antes da história realmente começar. É um piloto dividido em oito episódios, um movimento arriscado que pode dar errado. Por mais que se proponha a recriar a discussão dos gibis, a primeira temporada de O Legado de Júpiter nunca traz a discussão à tona por tempo o bastante para que ela tome corpo. Caso seja renovada para um próximo ano, a produção pode se tornar uma grande franquia, abrindo possibilidade até mesmo para spin-offs, como é o caso dos quadrinhos com Jupiter’s Circle.

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