The Walking Dead é um dos casos mais interessantes da TV no momento: no ar há quase dez anos, o programa já foi considerando pau-a-pau com outros gigantes- mas uma série de decisões questionáveis na narrativa mudaram a opinião popular para algo decepcionante e cansativo. Foi assim que a nona temporada veio com o intuito de sacudir as coisas para reconquistar esse prestígio e, agora, a série volta do hiato prometendo se comprometer com suas novidades e explorar uma ameaça diferente de tudo que já mostrou.
[Cuidado! Spoilers para o retorno de The Walking Dead abaixo]
Promovido durante o Super Bowl e com estreia adiantada em uma semana nos serviços de streaming, dá para ver que a AMC está confiante com a nova direção do seu produto recorrente de maior sucesso. “Adaptation“, nono episódio da temporada, começa logo após a morte de Jesus (Tom Payne), enquanto o grupo ainda está isolado em um cemitério. A cena, por si só, é um dos pontos altos do ano 9, e diz muito sobre o que a produção quer fazer com a introdução dos Sussurradores, um grupo bizarro de sobreviventes que caminha entre as hordas de mortos-vivos usando máscaras feitas de cadáveres. Em um cenário tomado por neblina, relâmpagos e um anoitecer azul, Michonne (Danai Gurira) e os demais tentam resgatar o corpo de seu colega enquanto são rodeados por esses “zumbis” que conversam entre si.
Mesmo para quem já conhece os antagonistas das HQs, é um momento genuinamente horripilante e bem conduzido justamente porque a série aceita a natureza assustadora dos novos personagens e decide usar isso a seu favor, optando por cenas mais sombrias, quietas e tensas. Parece que a produção quer se aproximar mais do terror: por mais que The Walking Dead esteja inserido no gênero, seu tratamento sempre foi estético. Há muitas temporadas, por exemplo, os mortos deixaram de ser uma fonte de perigo e tensão para a trama – e é justamente isso que os Sussurradores trazem de volta. A junção da ameaça humana com o vasto número dos walkers resgata a sensação de imprevisibilidade das primeiras temporadas, mas de uma forma que incorpora tudo que a série aprendeu até este ponto. Se, assim como na parte um, a tendência de desafiar seus próprios conceitos estabelecidos continuar, o programa pode ter um de seus melhores anos pela frente.
“Adaptation” parece um bom teste da produção em experimentação, tanto em usar um tom mais sombrio para recepcionar seus novos vilões quanto em variedade de estilos: The Walking Dead se estabeleceu como um drama humano em meio ao caos, um em que era possível entender que todas as decisões dos personagens partiam de pessoas sendo testadas ao limite. O seriado mantém isso para seus protagonistas – afinal, Michonne, Daryl (Norman Reedus) e Tara (Alanna Masterson) tentam conciliar suas relações pessoais problemáticas enquanto conduzem suas comunidades de formas diferentes -, mas investe em descaracterizar seus antagonistas ao ponto de torná-los quase que entidades sobrenaturais: os Sussurradores não têm rostos, expressões ou sequer nomes. Para o grupo principal e para o espectador, são apenas parte da horda – e isso rende bastante material para explorar.