Crítica | Encanto é rico em laços sanguíneos e tradições

Marcos Vinicius
Marcos Vinicius
PUBLICIDADE

No dicionário Família é definido como “um grupo de pessoas vivendo sob o mesmo teto e que pode possuir, ou não, alguma ancestralidade em comum”. É quase a mesma definição que é apresentada em Encanto, nova animação da Disney. A animação conta a história da família Madrigal, cujos membros passam por uma espécie de cerimônia de amadurecimento na qual recebem habilidades especiais como super força, super audição e controle sobre a fauna e flora. Mirabel (voz de Stephanie Beatriz em inglês) foi a única que não recebeu poderes quando a sua hora chegou, o que preocupa a matriarca da família, Alma (María Cecilia Botero), e todo o vilarejo que os Madrigal construíram ao redor de sua casa igualmente mágica.

Além de todo o lado musical da animação Encanto, representando muito bem as cores, sons e tradições colombianas, temos que destacar acima de tudo, algumas das propostas e lições expostas pela narrativa desenvolvida pela dupla Jared Bush e Byron Howard. Essencialmente, a história que o filme conta é sobre como a pressão por perfeição pode sufocar, como uma vida dedicada ao serviço do outro pode levar ao esquecimento e negligenciamento do eu. Luisa (Jessica Darrow), uma das primas de Mirabel, até tem um fabuloso número musical solo que explicita esse discurso, talvez a melhor composição de Lin-Manuel Miranda em (mais) um ano prolífico para o criador de Hamilton, que é complementada por alguns dos voos estilísticos mais ousados de uma animação da Disney em anos.

A ausência de um antagonista na história – não que isso seja um problema – mas a indefinição de quem é o antagonista, faz o espectador “dar esse cargo a outros personagens” que não são vilões, mas sim pessoas que possuem pontos de vista diferentes sobre o tema abordado. Essa confusão, não deve atrapalhar a diversão, mas pode fazer alguns perderem o interesse pela história.

PUBLICIDADE

Observamos que todos os netos e netas da terceira geração da família Madrigal, mais conhecida como Abuela, sofrem de algum tipo de ansiedade: a protagonista Mirabel sente-se culpada e escanteada por ser a única sem poderes mágicos no clã; Luisa que é o membro mais forte de toda a família, está passando por um momento de forte insegurança, acreditando que seu poder físico não dará conta, caso apareçam novos perigos para atrapalhar a vida dos habitantes da pequena comunidade de Encanto; enquanto a irmã mais velha Isabela sente a forte pressão diária de todos a sua volta para ser “a garota perfeita”, sempre bela, estonteante e simpática todo o tempo.

Aos poucos, vemos a narrativa ir quebrando a imagem de família-modelo dos Madrigais, entregando a ideia de que não importa quão poderoso ou admirado cada um seja, somos todos humanos, portanto, suscetíveis e vulneráveis às mudanças que surgem pelo caminho.

Ao redor de toda essa ginástica retórica, vale mencionar, Encanto é também uma maravilha visual. Um dos aspectos mais interessantes do filme é como ele se passa quase todo inteiramente dentro da casa dos Madrigal, com algumas incursões pelo vilarejo – e, mesmo assim, encontra formas de expandir e diversificar o espaço para transmitir o mesmo senso de aventura épica de um Raya e o Último Dragão, que construiu todo um mundo de fantasia à la O Senhor dos Anéis e Avatar: A Lenda de Aang.

Encanto é um filme que cumpre seu papel de entreter e possui uma interessante mensagem final, que mostra que família é muito mais do laços sanguíneos e tradições. Colorido com generosidade e imbuído de um dinamismo genuíno, expressado por cenas musicais (e de ação!) dirigidas com leveza e criatividade e pesar de algumas falhas, a obra deve fazer a alegria da família.

PUBLICIDADE
PUBLICIDADE

Últimas Notícias

PUBLICIDADE

Ao continuar navegando, declaro que estou ciente e concordo com a Política de Privacidade bem como manifesto o consentimento quanto ao fornecimento e tratamento dos dados e cookies para as finalidades ali constantes.